segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Povo Brasileiro

            

                O Brasileiro que é marcado por colonização, escravidão, invasão, domínio, rebeldia,  fuga, aprisionamento, marginalidade, abusos, imigração, despovoação,  miscigenação e etc...  Assim se fez construindo uma nação que chamamos de Brasil, sendo essa
a pátria de todos, a mãe acolhedora que guarda em seio filhos que fizeram história de dor e sofrimento, mas ao mesmo fizeram uma cultura e um novo povo que aqui hoje se encontra.



                    "Sem amor de ninguém, sem família, sem sexo que não fosse a masturbação, sem nenhuma identificação possível com ninguém - seu capataz pode ser um negro, seus companheiros de infortúnio, inimigos  - , maltrapilho e sujo, feio e fedido, perebento e enfermo, sem qualquer gozo ou orgulho do corpo, vivia a sua rotina. Esta era sofrer o dia o castigo diárias das chicotadas soltas, para trabalhar atento e tenso. Semanalmente vinha um castigo preventivo, pedagógico, para não pensar em fuga, e, quando chamava atenção, recaía sobre ele um castigo exemplar, na forma de mutilações de dedos, do furo de seios, de queimaduras com tição, de ter todos os dentes quebrados criteriosamente, ou dos açoites no pelourinho, sob trezentas chicotadas de uma vez, para matar, ou cinqüenta chicotadas diárias, para sobreviver. Se fugia e era apanhado, podia ser marcado com ferro em brasa, tendo um tendão cortado, viver peado com uma bola de ferro, ser queimado vivo, em dias de agonia, na boca da fornalha ou, de uma vez só, jogado nela para arder como um graveto oleoso.

                   Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios suplicados. Todos nós brasileiros somos por igual, a mão possessa que os suplicou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. Descendentes de escravos e de senhores e escravos seremos sempre servos da marginalidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento de dar intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres sobre crianças convertidas em pastos de nossa fúria". (RIBEIRO, DARCY. 1995, p.119/120)